O termo “sofistas” possui a sua origem no idioma grego a partir da palavra “sophistes” que significa “sábio”, os mesmos tinham uma enorme habilidade de discurso e convencimento. Os sofistas ao longo do tempo criaram a sua própria escola, mas não era uma instituição formada por tijolos e cimento e sim ensinamentos baseados na prática que se desenvolveu nos séculos IV e V a.C na Grécia antiga.
Os sofistas eram pessoas sábias e contemporâneas a Sócrates, Aristóteles e Platão chegando até a fase da chamada helenística, os mesmos na cidade de Atenas ensinavam as pessoas a fazer política através da oratória e a retórica, princípios esses que contribuíram principalmente para a formação do diálogo. Aristóteles e Sócrates foram os principais críticos acerca dos pensadores alegando que os mesmos só tinham uma preocupação única: Vencer debates através da oratória sem basear-se na verdade.
Vamos conhecer um pouco mais desse grupo de sábios eruditos itinerantes?
CONTEXTO HISTÓRICO
Principio
Um século depois dos naturalistas de Heráclito e Parmênides chegamos aos sofistas, sabemos que os pré-socráticos tinham como fonte de estudo principal a natureza, por isso são conhecidos como filósofos naturalistas, para os sofistas essa visão era totalmente tola e não tinha influência direta de ajudar o cidadão grego a se livrar de problemas pessoais.
Diante dessa mudança, o objetivo de estudo deixou de ser a natureza para se tornar a arte de persuasão que passou a ter mais importância a partir daquela época, homens que possuíssem grande poder de persuasão ficavam disponíveis para ensinar qualquer cidadão que desejasse aprender a arte de falar bem, seja para se candidatar algum cargo disponível na cidade ou até mesmo para se defender.
Em linhas gerais, os sofistas surgem quando a cosmologia já não era não era tão buscada, pois a democracia já estava bem avançada em Atenas.
ATENAS
Sabemos que a cidade de Atenas vivenciou a sua fase democrática, ou seja, o povo exercia o poder político, exceto algumas pessoas que não tinham o direito ao voto, como mulheres, escravos, homens menores de 18 anos e estrangeiros que não eram considerados cidadãos da Grécia.
A mesma necessitava de pessoas aptas a falar em público, a defender suas ideias e debates, a partir disso os cidadãos atenienses começaram a se reunir em uma praça pública chamada de “ágora” para defender suas concepções e aquilo que achava dos principais problemas da vida em sociedade.
É nesse contexto que surgiram pessoas sábias que conseguiam manipular votos de outras pessoas através da linguagem e frases bem boladas e artimanhas de discursos, conhecidos como sofistas, os mesmos acreditavam que a verdade era algo que podia ser “provado” que era verdade, ou seja, não existe verdade senão no discurso e o mesmo está na boca de quem sabe melhor articular as palavras, logo a verdade estava nas mãos dos mesmos.
Considerados grandes figuras do conhecimento da época, eles começaram a cobrar pelos conhecimentos passados e cobravam caro para ensinar jovens aprendizes o poder do discurso que era fundamental para a construção da democracia, por esse fato tais aulas eram tão necessárias.
E você deve estar se perguntando, não existia uma escola que ensinasse a arte da linguagem?
A resposta é não, em Atenas não havia um regime público de ensino superior, então o jovens que podiam pagar por instrução recorria aos sofistas a fim de se preparar para as dificuldades que encontrariam na vida adulta.
Afinal, quem eram os sofistas?
Os sofistas trabalhavam com a arte chamada de Aretê que é a excelência na arte da oratória e a erística conhecida como a arte do convencimento através da oratória.
Os mesmos eram considerados bons oradores e até mesmo eloquentes, propunham ensinar qualquer coisa a qualquer pessoa através das técnicas de persuasão e retórica, os sofistas convenciam através da emoção ou pela passividade do interlocutor, ou seja, nunca pela razão, a importância era apenas o convencimento.
Não utilizavam de um raciocínio lógico, apenas se identificavam como portadores de um saber universal eram considerados “professores” e ensinavam só aqueles que poderiam pagar.
Em linhas gerais, uma grande característica acerca dos sofistas é que para eles não existe a verdade, ou seja, para eles a verdade é relativa, varia de caso para caso, o importante é vencer o debate, foram considerados importantes cidadãos gregos que contribuíram muito para a sociedade grega em questão de como lidar com a política e os comerciantes da época e consequentemente o convencimento de compra.
Aristóteles e Sócrates
Como mesmo foi dito os sofistas foram muito criticados por Aristóteles (384-322 a.C) e Sócrates (470-399 a.C), pois não tinham o compromisso com a verdade, relativizando-a apenas para vencer os debates políticos.
Para Aristóteles os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados na procura da verdade e sim pelo refinamento na arte de vencer discussões.
Em contrapartida, Sócrates (470 -399 a.C) considerado um grande filósofo grego de sua época viu a sua teoria da dialética e da maiêutica sendo totalmente ignorada pelos sofistas, ou seja, o grupo negava a existência de uma verdade e a mesma só era conhecida através de um consenso entre os seres humanos.
Nesse contexto Sócrates foi totalmente contra a prática sofista e seus principais ensinamentos, principalmente no tecer que os sofistas cobravam altos preços para proporcionar o “saber”, o mesmo acreditava que o conhecimento partia da busca pela verdade, ou seja,” dar a luz” ao conhecimento através da técnica da” maiêutica” que só a partir da argumentação pode-se chegar ao saber verdadeiro.
Em linhas gerais, enquanto o grupo de sofistas acreditava que cada um tinha a sua própria forma de acreditar e a partir disso refutavam para ganhar o debater, o argumento, Sócrates já encontrava no caminho da argumentação e refutação a maneira para que o individuo descubra a sua própria ignorância e a partir disso passe a conhecer suas próprias limitações e a busca da verdade real.
Além desses dois importantes filósofos, os sofistas foram também criticados por Platão (428-347 a.C) para ele os sofistas não passavam de falsos sábios e mercenários.
PRINCIPAIS PENSADORES
Protágoras (481-420 a.C)
Protágoras é considerado o grande nome da filosofia sofista, é através do pensamento do próprio que o sofismo até então foi definido, o mesmo foi considerado o primeiro sofista de sua época e era visto como um ser bem sucedido e famoso, tanto que o principal entendimento era que a vida física era mais importante que uma vida pós morte.
Protágoras também ficou reconhecido pelo seu subjetivismo extremo, ou seja, considerava que tudo é subjetivo, que não existe nenhum tipo de verdade, no dialogo platônico o filósofo trouxe um importante pensamento de Protágoras:
“O homem é a medida de todas as coisas que são das coisas que são, enquanto são e das que não são, enquanto não são.”
Nessa frase é nítido que Protágoras relativiza a verdade, ou seja, o homem é a medida de todas as coisas, porem não é o homem enquanto histórico social, o homem é a medida das coisas a partir que começa a falar sobre tudo.
Significa que o ser humano possui vontades e deve fazer aquilo que quer, ou seja, é a medida daquilo e arcar depois com as conseqüências, o padrão de correção é o próprio ser humano.
Isso leva ao contexto do relativismo moral e epistemológico, pois não há verdade absoluta e consequentemente nenhum conhecimento epistêmico que seja essencialmente verdadeiro, não há um conhecimento certo cientifico.
E não é necessário uma moral que guie e oriente o que é certo, pois não existe o certo e o errado, o guia das ações são as vontades.
Protágoras foi o primeiro homem a dizer que em relação a qualquer assunto existem sempre duas afirmações contraditórias, mas adiante Platão questionou tal conceito de verdade.
A antilogia foi à principal obra de Protágoras, para ele era preciso argumentar pró e contra determinada posição, pois todas elas são verdadeiras, a antilogia era um bom recurso para se preparar para o debate, pois é possível defender bem qualquer posição tomada e objetivar com eficácia o argumento dos adversários.
O pensador concebia que não existe uma verdade e sim conceitos da vida
Por fim, Platão dedicou a sua obra ao mesmo o que mostra que mesmo não concordando com o sofismo respeitou o pensamento de Protágoras.
Além de ensinar a arte do debate aos jovens em uma de suas inúmeras visitas a Atenas foi nomeado por Péricles atual governante da cidade e redigiu a constituição da colônia ateniense.
HIPÍAS (430-343 a.C)
Hipias também considerado um dos mais famosos sofistas de seu tempo, matemático, acreditava que se podia buscar outras áreas do conhecimento, ou seja, ele dizia que além de matemático poderia discutir música, filosofia, história e ciência como um todo.
Com os seus discursos e por ter sido considerado um hábil e respeitável orador ganhou grande fama e conseguiu juntar grandes poses, o mesmo é a figura que ficou conhecido como o criador da “ Mnemotécnica” ( arte da memória) e no fim de sua vida foi nomeado com um titulo importante: “ Embaixador da sua cidade natal”
GORGIAS (483-380 a.C)
Górgias também foi considerado um grande sofista de sua época, juntamente com Protágoras formaram a chamada primeira geração de sofistas.
O Sofista acreditava que não existiam virtudes ou moral, mas a persuasão, ou seja, a pessoa capaz de convencer aquilo que é bom ou ruim, bem ou mal:
“A persuasão aliada às palavras modela a mente dos homens como quiser.”
Outro pensamento importante é que para ele não existe o real, e se nada existe, o homem não pode conhecer verdadeiramente nada; e ao mesmo tempo em que algo exista e possa ser conhecido, seria impossível se comunicar aos outros sobre esse conhecimento
É considerado um cético niilista, aquele que não acredita e suspende o seu juízo, não há nada de definitivo.
Por toda sua vida andou por diversas cidades para conceber o seu conhecimento, fato esse que o fez ficar famosos em diversas locais, como Olímpia e delfos.
Górgias viveu até os 100 anos de idade e conseguiu conquistar o titulo de Embaixador de Atenas.
E por fim podemos citar outros sofistas importantes como Pródico, Antístenes, Trasimaco.