Modernidade Líquida

A modernidade líquida é uma das principais obras do grande sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017) o termo foi utilizado para representar o mundo globalizado a qual estamos inseridos, mundo esse definido como líquido:

“Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar.”

Modernidade Líquida
CAPA DO LIVRO MODERNIDADE LIQUIDA- 2001

A modernidade líquida surgiu após a segunda Guerra Mundial e teve grande nuance a partir de 1960. A principal evidencia do conceito surgiu durante a revolução industrial trazendo as relações econômicas sobrepostas as relações humanas e principalmente sociais, fatores que abriram um grande espaço para fluidez e fragilidades de laços entre indivíduos e suas instituições.

Na modernidade líquida a inconstância e sua liquidez são dois fatores que levaram a sociedade a se desorganizar socialmente em todas as suas esferas como: o trabalho, o lazer, cultura, amor, vida social.

Para o sociólogo, dentro da modernidade líquida, são os próprios sujeitos que moldam a sua própria sociedade e suas características de personalidade, ou seja, diante dos olhos alheios, o individuou é visto de acordo com seu modo de vida, aquilo que come, aquilo que veste, aquilo que consome materialmente, a lógica da moral perdeu espaço a lógica do consumo, as pessoas passaram a ser analisadas não pelo o que elas são e sim pelo que compram.

Zygmunt enxergava a modernidade sinônimo de movimentação, pois nos tempos atuais as pessoas possuem mais flexibilidade de descolamento, deslocamento que ajuda a conhecer e estar em vários lugares ao mesmo tempo, claro, que é preciso possuir certos recursos para tal ação.

A sociedade líquida não se compromete com as coisas e consequentemente há uma fragmentação e por fim, o fracasso.

Vamos conhecer os cinco principais pontos da modernidade líquida trazida pelo sociólogo?

OS CINCO PRINCIPAIS PONTOS DA MODERNIDADE LÍQUIDA

Muitos interpretam o mundo a qual vivemos hoje em dia como uma pós modernidade, mas para o sociólogo polonês vivemos uma “Modernidade Líquida”, conceito esse que foi um termo muito utilizado em diversas das suas obras: Amor Líquido – Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos (2000), Vida Líquida (2005), Tempos Liquidos (2007), Medo Líquido (2006), Vigilância Líquida (2013), 44 cartas do mundo moderno Líquido (2010).

Zygmunt foi um dos pensadores mais influentes do final do século XX, o mundo líquido para ele são as incertas escorrendo pelos dedos, a realidade da sociedade contemporânea é permanentemente cheia de incertezas, em sua obra aborda cinco principais pontos:

  • Emancipação
  • Individualidade
  • Tempo-Espaço
  • Trabalho
  • Comunidade

A emancipação segundo o sociólogo é o primeiro passo para os indivíduos se enxergarem como agentes ativos e questionadores da sociedade, para ele se há a busca pela liberdade, há também uma maior responsabilização individual, ou seja, lidar com suas próprias escolhas.

Já no tecer individual, Bauman demonstrou ter uma perspectiva bastante pessimista, o mesmo acreditava que a identidade estava sendo construída e moldada pelo consumo levando a sociedade a ter escolhas de individualismo, egoísmo, e ações por si mesmo, deixando de lados fatores importantes como: cooperação, solidariedade e respeito.

No cenário tempo e espaço Zygmunt destaca a tecnologia como uma espécie de agente fragmentador, segundo ele o espaço fica cada vez maior com máquinas mais velozes e eficientes e cada vez mais cabem coisas dentro do mesmo período de tempo, isso acontece pelo fato do chamado “Eventos Simultâneos”, que consequentemente acabam criando mais zonas, em uma entrevista, o sociólogo chegou a falar da instantaneidade que se amplificou com os fenômenos das redes sociais, a qual a urgência de ir em algum lugar é menor devido a existência de um espaço virtual, espaço esse a qual podemos ir a qualquer local no instante que quisermos.

No quesito trabalho, afirmou que na modernidade líquida o desemprego é estrutural em sociedades prósperas, uma vez que as relações profissionais são instáveis e efêmeras, o mesmo destacou que o progresso surge a partir da confiança em si mesmo e no desenvolvimento de estratégias e ações de curto prazo, dando ênfase a disputa econômica que enfraqueceu os salários e consequentemente a segurança de um emprego sólido, para ele, em um mundo globalizado não é mais possível trabalhar toda vida em uma mesma empresa.

E por último, o sociólogo abordou o enfraquecimento do conceito de comunidade, uma vez que a sociedade estabelece hoje seus laços em redes sociais e suas conexões, conexões essas que são facilmente feitas e desfeitas por base de interesses pessoais.

Concluindo, a modernidade líquida é fluida, está sempre em movimento, e principalmente, imprevisível.

Recomendamos também: Fenomenologia de Edmund Husserl.

MODERNIDADE SÓLIDA X MODERNIDADE LÍQUIDA

Foi se o tempo em que os conceitos, ideias e estruturas sociais eram sólidos, rígidos, estáveis e principalmente previsíveis, para Bauman a modernidade sólida era os tempos de certezas, nos tempos sólidos havia segurança, estabilidade na vida social e suas vertentes, como emprego, relacionamentos, família, e principalmente segurança, segurança essa que permitia o individuo a viver com dignidade.

E a partir do momento que a modernidade sólida vai perdendo seu espaço, a racionalidade cria um novo sistema, sistema esse criado para se adequar a sociedade fluida, sociedade essa construída na competitividade, incertezas, e a grande concorrência, princípios que tomaram o espaço das certezas e se adaptaram ao meio a qual está inserido.

Com o novo cenário o individuo se vê sem referências externas, e por esse fato, é obrigado a construir sua própria identidade a partir de experiências pessoais, gerando uma grande angústia e até mesmo desconforto, mas por outro lado, cria-se a liberdade, liberdade e responsabilidade dos seus atos.

Confira logo abaixo as principais diferenças entre modernidade sólida e modernidade líquida:

  • Modernidade Sólida: Sociedade que consome e produz X Modernidade Líquida: Apenas consumidores
  • Consumismo atrelado a sobrevivência X Consumismo como caminho para ser aceito em determinados grupos sociais.
  • Instituições Sólidas X intuições Fluidas
  • Durabilidade X Obsolescência programada.

 E AS RELAÇÕES HUMANAS?

Como mesmo visto na modernidade líquida as relações humanas ficaram estremecidas, abaladas, distantes, baseadas em apenas conexões via redes sociais, ou seja, relações fundamentadas em números e superficialidade, superficialidade essa construída através de amizades, relacionamentos amorosos, que a qualquer momento podem ser desfeitos.

As redes sociais serviram como contrapondo da intensificação do amor líquido, amor esse que vê apenas o individuo como objeto para a busca do prazer momentâneo e rápido. As conexões estabelecidas são banais e até mesmo eventuais, o grande número de amigos virou apenas sinônimo de ostentação e exibicionismo, amigos esses que na maioria dos casos são apenas meras colegas ou até mesmo conhecidos diante de contatos virtuais.

Veja ainda: Despotismo.

TRECHOS DO LIVRO – MODERNIDADE LÍQUIDA

“O amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto à morte. Só que ele encobre essa verdade com a comoção do desejo e do excitamento. Faz sentido pensar na diferença entre amor e morte como na que existe entre atração e repulsa. Pensando bem, contudo, não se pode ter tanta certeza disso. As promessas do amor são, via de regra, menos ambíguas do que suas dádivas. Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar. E o fascínio da procura de uma rosa sem espinhos nunca está muito longe, e é sempre difícil de resistir.”

“Os adolescentes equipados com confessionários eletrônicos portáteis são apenas aprendizes treinando e treinados na arte de viver numa sociedade confessional – uma sociedade notória por eliminar a fronteira que antes separava o privado e o público, por transformar o ato de expor publicamente o privado numa virtude e num dever público.”

“O capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento.”

“Nós somos responsáveis pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo positivamente ou indo contra, pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando nossas vidas.”

Outros artigos:

Conteúdo original, não se esqueça de referenciar: Disponível em: <https://resumos.soescola.com/filosofia/modernidade-liquida/>