Álvares de Azevedo

Biografia de Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo, um renomado escritor brasileiro da era do romantismo conhecida como “geração ultrarromântica” ou “mal-do-século”, imortalizou-se através de temas sombrios e trágicos, narrando desilusões amorosas, mortes e outros eventos melancólicos.

A Juventude e Influências Literárias

Nascido em São Paulo, no dia 12 de setembro de 1831, Álvares de Azevedo veio de uma família proeminente, com seu pai, Inácio Manuel Álvares de Azevedo, e sua mãe, Maria Luísa Mota Azevedo. Aos dois anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a infância, revelando-se um aluno excepcional nos colégios Stoll e internato Pedro II.

Com apenas 17 anos, em 1848, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito de São Paulo, destacando-se por sua brilhante mente e comprometimento. Fundou a “Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistana” em 1849. Porém, sua vida tomou um rumo sombrio quando, em 1851, após um acidente de cavalo, um tumor na fossa ilíaca o acometeu, dando origem à tuberculose pulmonar, doença que o acompanhou até seu trágico fim.

A Despedida Prematura

Álvares de Azevedo partiu deste mundo em 25 de abril de 1852, no Rio de Janeiro, com apenas 20 anos. Curiosamente, um mês antes de sua morte, ele escreveu o emocionante poema “Se eu morresse amanhã”, que foi recitado no dia de seu enterro por Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882).

Obras e a Influência de Lord Byron

Devido à sua morte precoce, a produção literária de Álvares de Azevedo foi publicada após sua partida. Seu destaque maior é a antologia poética “Lira dos Vinte Anos”, a única obra que ele próprio preparou para publicação, e que viu a luz do dia somente em 1853.

Essa obra fazia parte de um projeto conjunto que ele tinha com seus amigos e escritores mineiros Bernardo Guimarães (1825-1884) e Aureliano Lessa (1828-1861), um projeto intitulado “As Três Liras”.

As criações de Álvares de Azevedo foram profundamente moldadas pela influência do poeta inglês romântico Lord Byron (1788-1824), o que justifica a designação da segunda geração do romantismo como “Byroniana ou Ultrarromântica”.

Os Temas Sombrios e a Sarcástica Ironia

A obra de Álvares de Azevedo é permeada pelo pessimismo. Suas escolhas temáticas giram em torno da morte, dor, doença, desilusões amorosas e frustrações, frequentemente apresentando um tom irônico e sarcástico.

Outras obras importantes que foram publicadas postumamente incluem “Poesias Diversas” (1853), “Noite na Taverna” (1855), “Macário” (1855), “Poema do Frade” (1862) e “O Conde Lopo” (1866).

Álvares de Azevedo, apesar de sua partida prematura, deixou um legado literário que continua a inspirar gerações, destacando-se por sua habilidade única em explorar as profundezas da emoção humana em todas as suas facetas sombrias.

Poemas de Álvares de Azevedo

1. Amor

Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!


Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minh’alma, meu coração…
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!


2. Meu Desejo

Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta:
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta….

Meu desejo? era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra….
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra….

Meu desejo? era ser o cortinado
Que não conta os mistérios do teu leito;
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escomilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro….

Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de languor!


3. Passei ontem a noite junto dela

Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós — e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela…

Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!

Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!

Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando…
Cheio de amores! E dormir solteiro!


4. Adeus, meus sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!


5. Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!


6. Minha desgraça

Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco….

Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro….
Eu sei…. O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro….

Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.


7. Lembranças de morrer

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas.
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei, que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores.
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo.
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta – sonhou – e amou na vida.


Resumo da Biografia de Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo, destacado escritor brasileiro da “geração ultrarromântica,” viveu uma vida permeada por temas trágicos e sentimentos intensos. Nascido em 1831 em São Paulo, ele se destacou como aluno brilhante em sua juventude. Em 1848, iniciou o curso de Direito em São Paulo, porém, enfrentou uma reviravolta quando um acidente em 1851 desencadeou uma doença fatal.

Álvares de Azevedo faleceu em 1852, aos 20 anos, no Rio de Janeiro. Seu talento literário póstumo é evidenciado pela antologia “Lira dos Vinte Anos,” uma obra que projetou juntamente com amigos escritores mineiros, embora o projeto completo não tenha se concretizado.

Inspirado pelo poeta romântico inglês Lord Byron, Álvares de Azevedo criou obras notáveis marcadas por um tom pessimista e temas sombrios, como morte, dor e desilusões amorosas. A influência de Byron deu à segunda geração do romantismo o apelido de “Byroniana ou Ultrarromântica.”

O escritor deixou um legado significativo, mesmo com sua vida curta. Obras como “Poesias Diversas,” “Noite na Taverna,” “Macário,” “Poema do Frade” e “O Conde Lopo,” todas publicadas postumamente, demonstram sua rica imaginação e sensibilidade para explorar a complexidade das emoções humanas, principalmente as mais sombrias.