Alphonsus de Guimaraens

Biografia de Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens, cujo nome completo é Afonso Henriques da Costa Guimarães, veio ao mundo em 24 de julho de 1870, na cidade de Ouro Preto, localizada no estado de Minas Gerais. Além de exercer a arte da poesia, ele também desempenhou funções como promotor, juiz e jornalista. A partida prematura de sua primeira noiva, sua prima Constança, teve o efeito de fazer com que o autor passasse a enxergar a realidade através de uma lente de tristeza e melancolia.

Dessa maneira, o escritor, que veio a falecer em 15 de julho de 1921, inscreveu seu nome no movimento simbolista brasileiro, onde suas produções líricas eram notáveis pela utilização de uma linguagem simples, bem como pela inclusão habilidosa de aliterações e sinestesias. A perda profunda que sentiu por sua amada se reflete também de forma frequente em seus textos, manifestando-se na figura da mulher idealizada e no tema da morte.

Percurso de Vida de Alphonsus de Guimaraens

No dia 24 de julho de 1870, nasceu Alphonsus de Guimaraens, ou Afonso Henriques da Costa Guimarães, na cidade de Ouro Preto, situada no estado de Minas Gerais. Sua mãe, Francisca de Paula Guimarães Alvim, era sobrinha do famoso escritor Bernardo Guimarães (1825-1884). Portanto, o gosto pela literatura era algo enraizado na família do jovem poeta, que frequentou o Liceu Mineiro de Ouro Preto entre 1882 e 1886.

Em 1887, Alphonsus se matriculou no curso complementar da Escola de Minas. Foi também nesse ano que ele iniciou um relacionamento amoroso com sua prima Constança, filha de Bernardo Guimarães. Entretanto, em 28 de dezembro de 1888, a vida o confrontou com a partida de sua amada, um evento que viria a ser profundamente marcante em sua produção poética.

Não obstante, a vida seguiu seu curso. Em 1891, o escritor se inscreveu na Faculdade de Direito da cidade de São Paulo, onde ele não apenas se dedicou ao jornalismo, mas também se tornou um participante ativo da Vila Kirial, um espaço cultural criado por José de Freitas Vale (1870-1958), um benfeitor que buscava fomentar o desenvolvimento artístico e educacional. Portanto, sua casa se transformou em um ponto de encontro para intelectuais e artistas.

Entretanto, em 1893, um ano antes de concluir sua formação, Alphonsus de Guimaraens decidiu transferir-se para a Faculdade de Direito de Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto. Dois anos mais tarde, ele fez uma viagem ao Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de conhecer o escritor simbolista Cruz e Sousa (1861-1898). No ano de 1895, o poeta mineiro conquistou um cargo de promotor na cidade de Conceição do Serro, localizada em Minas Gerais, e posteriormente ascendeu ao posto de juiz substituto.

Em 31 de outubro de 1896, Alphonsus de Guimaraens formalizou seu noivado com Zenaide de Oliveira e, em 20 de fevereiro de 1897, o casamento entre ambos foi celebrado. Quando o cargo de juiz substituto foi abolido em 1903, o poeta assumiu a direção do jornal Conceição do Serro. No ano seguinte, ele conseguiu recuperar sua posição como promotor e, em 1906, foi nomeado juiz na cidade de Mariana.

A trajetória de Alphonsus de Guimaraens teve seu desfecho em 15 de julho de 1921, na cidade de Mariana, cerca de dois meses após a morte de sua filha Constança, que tinha aproximadamente um ano de idade. Assim, sua vida foi marcada por uma produtiva dedicação à poesia e à jurisprudência, bem como pela contribuição para várias publicações, entre elas:

  • Novidades;
  • Comércio de S. Paulo;
  • O Mercantil;
  • Correio Paulistano;
  • Revista Ilustrada;
  • O Estado de S. Paulo;
  • A Gazeta;
  • Fon-Fon;
  • O Alfinete.

Traços da Produção de Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens deixou sua marca no cenário literário como um representante do movimento simbolista no Brasil, e isso é evidenciado por características recorrentes em suas obras:

  • Uma tendência ao pessimismo;
  • Um cuidado meticuloso com a forma;
  • Um foco intenso no subjetivismo;
  • Uma inclinação contra a racionalidade excessiva;
  • O uso de uma linguagem rebuscada;
  • Uma perspectiva mística da realidade;
  • A presença de uma musicalidade intrínseca nos versos;
  • O uso de alegorias em letras maiúsculas;
  • Uma seleção cuidadosa de palavras sugestivas;
  • O uso frequente de reticências para sugerir significados latentes;
  • Uma abordagem sinestésica da linguagem;
  • A ausência de crítica direta à situação sociopolítica;
  • Uma crença em um “plano das essências” subjacente.

Entre as características pessoais do poeta, podemos apontar em sua poesia:

  • O emprego de uma linguagem descomplicada;
  • O uso frequente de aliterações;
  • A preferência pelo uso predominante do soneto;
  • A representação recorrente da figura da mulher idealizada;
  • A exploração do conceito de amor idealizado;
  • A presença constante da melancolia;
  • A abordagem do tema da morte;
  • A expressão de sua religiosidade católica;
  • O sentimento de solidão que perpassa suas composições;
  • A utilização de tipos de verso como redondilhas, decassílabos e alexandrinos.

Principais Obras de Alphonsus de Guimaraens

  • O Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899)
  • A Câmara Ardente (1899)
  • Dona Mística (1899)
  • Kiriale (1902)
  • Mendigos (1920)
  • Pauvre Lyre (1921)
  • Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923)
  • A Escada de Jacó (1938)
  • Pulvis (1938)

Poemas de Alphonsus de Guimaraens

A Catedral

Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”


Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava longe do céu…
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…”


“Hão de Chorar por Ela os Cinamomos…

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . “
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos…
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — “Por que não vieram juntos?”


Cantem outros a clara cor virente

Cantem outros a clara cor virente 
Do bosque em flor e a luz do dia eterno… 
Envoltos nos clarões fulvos do oriente, 
Cantem a primavera: eu canto o inverno. 
Para muitos o imoto céu clemente 
É um manto de carinho suave e terno: 
Cantam a vida, e nenhum deles sente 
Que decantando vai o próprio inferno. 

Cantem esta mansão, onde entre prantos 
Cada um espera o sepulcral punhado 
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos… 

Cada um de nós é a bússola sem norte. 
Sempre o presente pior do que o passado. 
Cantem outros a vida: eu canto a morte… 


Soneto

Encontrei-te. Era o mês… Que importa o mês? Agosto, 
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto, 
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranquilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois… depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia… Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto, 
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira, 
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?”


Resumo da Biografia de Alphonsus de Guimaraens


Alphonsus de Guimaraens, também conhecido como Afonso Henriques da Costa Guimarães, nasceu em 1870 em Ouro Preto, Minas Gerais. Além de poeta, desempenhou papéis como promotor, juiz e jornalista. A morte trágica de sua primeira noiva, Constança, influenciou sua perspectiva, levando-o a enxergar a realidade com melancolia.

Ele é um representante do simbolismo brasileiro, caracterizado por poesias melancólicas com linguagem simples, aliterações e sinestesias. Suas obras frequentemente abordam a mulher idealizada e a morte devido à sua perda pessoal. Sua trajetória inclui passagens pelo Liceu Mineiro, cursos de Direito em São Paulo e Minas Gerais, bem como um período como juiz e jornalista.

Alphonsus de Guimaraens faleceu em 1921, deixando um legado de poesia que reflete características simbolistas como pessimismo, subjetivismo e linguagem sugestiva. Sua obra também é marcada por temas de solidão, morte, religiosidade católica e amor idealizado. Suas principais obras incluem “Setenário das Dores de Nossa Senhora”, “Câmara Ardente” e “Pauvre Lyre”.