Aracy Guimarães Rosa

Biografia de Aracy Guimarães Rosa

Aracy Guimarães Rosa (1908-2011) foi a segunda esposa do diplomata e escritor Guimarães Rosa. Trabalhando no Itamaraty em Hamburgo, ela desempenhou um papel fundamental ao auxiliar inúmeros judeus em sua fuga do regime nazista. Ela ficou conhecida como a “Anjo de Hamburgo” e recebeu homenagens nos museus do Holocausto em Jerusalém e Washington.

Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, também conhecida como Aracy de Carvalho, veio ao mundo em Rio Negro, Paraná, no dia 5 de dezembro de 1908. Seu pai era Amadeu Anselmo de Carvalho, um empresário luso-brasileiro de sucesso, e sua mãe era a alemã Sidonie Moebius de Carvalho.

Quando ainda era uma criança, Aracy mudou-se com sua família para São Paulo, onde frequentou escolas tradicionais, o que a tornou uma jovem culta e versada em diversos idiomas.

Em 1930, Aracy casou-se com Johann Eduard Ludwig Tess, um alemão, mas o casamento terminou quatro anos depois. Ela decidiu então recomeçar sua vida na Alemanha, terra natal de sua mãe.

Mudança para a Alemanha

Apesar dos desafios enfrentados por mulheres divorciadas na época, em 1934 Aracy embarcou em uma jornada rumo à Alemanha com seu filho de quatro anos. Com coragem, habilidades linguísticas e conhecimento cultural, ela se estabeleceu na casa de uma tia e rapidamente se adaptou à vida no país.

Entretanto, com Adolf Hitler no poder desde 1933 e a iminência da Segunda Guerra Mundial, Aracy testemunhou as dificuldades enfrentadas pelos judeus, incluindo sua expulsão de cargos públicos, escolas e universidades, bem como a perda de seus direitos e propriedades.

No Brasil, o presidente Getúlio Vargas via a Alemanha como uma possível aliada, e em junho de 1937, o Ministério de Relações Exteriores emitiu uma resolução secreta restringindo a entrada de “semitas” no país.

Aracy desafiou essa regra ao recusar-se a marcar os passaportes dos judeus com um “J”. Ela reunia as autorizações de visto com outros documentos que o cônsul deveria assinar.

Em 1938, Aracy conheceu Guimarães Rosa, que mais tarde se tornaria um dos maiores escritores brasileiros e seu futuro marido, enquanto ele servia como cônsul adjunto do Brasil em Hamburgo. Guimarães Rosa apoiou o esquema de Aracy para ajudar os judeus.

Apesar do risco de ser descoberta e entregue às autoridades nazistas, Aracy abrigou judeus em sua casa e facilitou a fuga de outros para países vizinhos. Ela permaneceu amiga do casal judeu Margareth e Hugo Levy até o fim de sua vida.

Retorno ao Brasil

Aracy e Guimarães Rosa foram investigados pelas autoridades do Brasil e da Alemanha. Em 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e se aliou aos Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética contra Hitler, o casal foi detido pela Gestapo em um hotel por 100 dias, até que a troca de diplomatas entre os dois países fosse acertada.

De volta ao Brasil, Aracy mudou-se para São Paulo com seu filho e mãe. Guimarães Rosa foi para Bogotá, onde assumiu o cargo de segundo-secretário da embaixada. Como já estavam separados, eles oficializaram sua união na Embaixada do México, no Rio de Janeiro, em 1946.

Entre 1946 e 1951, viveram em Paris, onde Guimarães Rosa consolidou sua carreira diplomática e começou a escrever com mais frequência. Ele dedicou a ela “Grande Sertão: Veredas” (1956), uma obra fundamental na literatura brasileira moderna.

Homenagens e Morte

Em 1982, Aracy Guimarães Rosa recebeu a mais alta honraria concedida a “não judeus” que arriscaram suas vidas para proteger vítimas do Holocausto: o título de “Justa entre as Nações”, concedido pelo governo de Israel.

Ela também foi homenageada no Museu do Holocausto em Washington e em Jerusalém, onde os judeus a chamaram de “Anjo de Hamburgo”.

Aracy Guimarães Rosa faleceu em São Paulo em 3 de março de 2011, aos 102 anos, devido ao Mal de Alzheimer.

Série de TV

Em 2021, a história de “Aracy de Carvalho” foi retratada na minissérie “Passaporte para Liberdade” da TV Globo. A atriz Sophie Charlotte interpretou a protagonista.


(Resumo) Aracy Guimarães Rosa

Aracy Guimarães Rosa (1908-2011) foi a segunda esposa do renomado diplomata e escritor Guimarães Rosa. Ela desempenhou um papel crucial como funcionária do Itamaraty em Hamburgo, ajudando inúmeros judeus a escapar do regime nazista, o que lhe rendeu a alcunha de “Anjo de Hamburgo” e homenagens em museus do Holocausto em Jerusalém e Washington.

Nascida Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, em 5 de dezembro de 1908, em Rio Negro, Paraná, ela era filha de Amadeu Anselmo de Carvalho, um empresário de sucesso de origem luso-brasileira, e da alemã Sidonie Moebius de Carvalho. Após sua mudança para São Paulo na infância, Aracy frequentou escolas tradicionais, o que lhe proporcionou uma educação culta e a habilidade de falar vários idiomas.

Em 1930, Aracy se casou com um alemão chamado Johann Eduard Ludwig Tess, mas o casamento terminou em quatro anos. Decidindo recomeçar sua vida na Alemanha, sua terra natal materna, ela embarcou em uma jornada em 1934, apesar dos desafios enfrentados pelas mulheres divorciadas na época.

Na Alemanha, Aracy rapidamente se adaptou à vida local, apesar da ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933 e da iminência da Segunda Guerra Mundial. Em 1936, ela começou a trabalhar no Itamaraty, chefiando a seção de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Durante esse período, ela testemunhou as crescentes restrições impostas aos judeus na Alemanha.

Aracy desafiou as ordens de marcar os passaportes dos judeus com um “J” e, com o apoio de Guimarães Rosa, que servia como cônsul adjunto do Brasil em Hamburgo, ela ajudou judeus a obterem vistos e outros documentos necessários para escapar da perseguição nazista. Essa ação arriscada a colocou em grave perigo, mas ela persistiu em sua missão de salvar vidas, inclusive abrigando judeus em sua própria casa.

Em 1942, com o Brasil rompendo relações diplomáticas com a Alemanha e se unindo aos Aliados contra Hitler, Aracy e Guimarães Rosa foram detidos pela Gestapo e mantidos em cativeiro por 100 dias. Posteriormente, eles foram liberados após a negociação de uma troca de diplomatas entre os dois países.

De volta ao Brasil, Aracy foi morar em São Paulo, enquanto Guimarães Rosa foi designado para Bogotá. Embora já estivessem separados, eles oficializaram seu casamento na Embaixada do México, no Rio de Janeiro, em 1946.

Entre 1946 e 1951, viveram em Paris, onde Guimarães Rosa consolidou sua carreira diplomática e começou a escrever com mais frequência. Ele dedicou a ela uma de suas obras mais importantes, “Grande Sertão: Veredas” (1956).

Em 1982, Aracy Guimarães Rosa foi honrada com o título de “Justa entre as Nações” pelo governo de Israel, a mais alta distinção concedida a não judeus que arriscaram suas vidas para salvar vítimas do Holocausto. Ela também recebeu homenagens nos museus do Holocausto em Washington e Jerusalém, sendo carinhosamente chamada de “Anjo de Hamburgo” pelos judeus.

Aracy Guimarães Rosa faleceu em São Paulo em 3 de março de 2011, aos 102 anos, devido ao Mal de Alzheimer.

Sua notável história foi retratada na minissérie “Passaporte para Liberdade” da TV Globo em 2021, com a atriz Sophie Charlotte interpretando o papel principal.