Antonio Machado

Biografia de Antonio Machado

Antonio Machado (1875-1939) era um poeta espanhol conhecido por suas perspectivas críticas sobre a realidade nacional, estando ligado à “Geração de 98”.

Antonio Cipriano José Maria Machado Ruiz nasceu na cidade de Sevilha, Espanha, em 26 de julho de 1875. Quando tinha oito anos, sua família se mudou para Madri, onde ele continuou seus estudos na Institución Libre de Ensenanza e, posteriormente, concluiu sua formação nos institutos San Isidoro e Cardenal Cisneros.

Carreira Literária

Em 1895, Antonio Machado deu início à sua carreira literária, escrevendo artigos satíricos e humorísticos para o periódico La Caricatura.

Em 1899, ele se mudou para Paris, onde trabalhou como tradutor para a Editora Garnier. Nesse período, ele teve a oportunidade de conhecer o britânico Oscar Wilde e o espanhol Pio Baroja.

De volta a Madri, Antonio Machado se juntou à companhia teatral de Maria Guerrero e Fernando Dias de Mandoza.

Em 1902, retornou a Paris e entrou em contato com o movimento modernista, influenciado pelo poeta Rubén Dario. No entanto, mais tarde, ele abandonou o modernismo em favor do que ele chamou de “poesia eterna”.

Fases da Obra de Antonio Machado

A obra literária de Antonio Machado pode ser dividida em três fases. A primeira fase é marcada pelo livro “Soledades” (1903) e “Soledades, Galerias e Outros Poemas” (1907), que expande o trabalho anterior. Essas obras são influenciadas pelo romantismo tardio do século XIX e são altamente líricas e subjetivas, explorando temas como a morte, o tempo e a melancolia.

A mudança para a cidade de Soria, na região de Castela, marcou a segunda fase de sua obra, caracterizada por uma poesia menos intimista. Nessa época, ele publicou “Campos de Castilla” (1912), que tinha um caráter mais descritivo e transmitia a imagem de uma região desolada, além de incorporar formas do romanceiro popular.

Após a morte de sua esposa, Antonio Machado deixou Soria e viveu em Baeza e Segóvia antes de se estabelecer em Madri em 1931. Durante esse período, publicou “Nuevas Canciones” (1924), caracterizado pela predominância do verso sobre a prosa, e “Poesias Completas” (1928), que refletia um tom mais sombrio e uma busca intelectual, marcando a terceira fase de sua obra.

Em 1932, Antonio Machado retornou a Madri, mas em 1936 eclodiu a guerra civil espanhola, e ele se declarou partidário dos republicanos. Ele se mudou para Valência e depois para Barcelona, e em janeiro de 1939, exilou-se na França.

Antonio Machado faleceu em Collioure, França, em 22 de fevereiro de 1939.


ANDEI MUITOS CAMINHOS

Andei muitos caminhos,
abri muitas veredas;
Naveguei em cem mares,
e atraquei em cem ribeiras.

Em todas as partes vi
caravanas de tristeza,
soberbos e melancólicos
borrachos de sombra negra,

E pedantes por trás dos pano
que olham, calam, e pensam
que sabem, porque não bebem
o vinho das tabernas.

Diabólicas pessoas que caminham
e vai apestando a terra…

E em todas partes vi
pessoas que dançam ou jogam,
quando podem, e laboram
seus quatro palmos de terra.

Nunca, chegam a um lugar,
perguntam aonde chegam.
Quando caminham, cavalgam
nos lombos de mula velha,

E não conhecem a pressa
nem ainda nos dias de festa.
Onde há vinho, bebem vinho;
onde não há vinho, água fresca.

São boas gentes que vivem,
laboram, passam e sonham,
e em um dia como tantos,
descansam debaixo da terra.

Antonio Machado – poeta espanhol.

Cantares

Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar

Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão

Gosto de ver-los pintar-se
de sol e graná voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se…

Nunca persegui a glória

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar…

Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar”…

Golpe a golpe, verso a verso…

Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se lhe vieram chorar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso.


RETRATO (DE CAMPOS DE CASTILLA)

A minha infância é lembranças de um pátio sevilhano,
e de um claro pomar de limoeiros maduros;
a juventude quatro lustros em campo castelhano;
a minha história uns casos que recordar não cuido.

Nem sedutor Mañara, nem Brandomín hei sido
– quem não conhece o meu desleixo indumentário? –
mas recebi a flecha que disparou Cupido,
e amei o que elas podem ter de hospitalário.

Tenho nas veias algum sangue jacobino,
mas meu verso brota sem carregar o tom;
e mais que homem que julga só beber do fino,
sou, no pleno sentido da palavra, bom.

Adoro a formosura e na moderna estética
cortei as rosas do jardim de Ronsard;
mas não amo as artes da actual cosmética,
nem sou desses pássaros do novo gay-trinar.

Desdenho as cantarias dos tenores pecos,
e o coro dos grilos que cantam à lua.
E paro a distinguir as vozes e os ecos,
e de entre as vozes todas ouço apenas uma.

Sou clássico, romântico? Não sei. Deixar quisera
meus versos como deixa o capitão sua espada:
famosa pela mão que combateu com ela,
não pelo ofício do alfageme apreciada.

Converso com o homem que sempre vai comigo
– quem fala só conta falar com Deus um dia –
meu solilóquio é prática com este amigo
que me ensinou o segredo da filantropia.

E não vos devo nada. Deveis-me quanto hei escrito.
A meu trabalho acudo, com meu dinheiro pago
a roupa que me cobre, e a casa adonde habito,
o pão que me alimenta, o leito em que me apago.

E quando chegue o dia da última viagem,
pronta a partir a nau que nunca há-de voltar,
haveis de ver-me a bordo com pouca bagagem,
e mesmo quase nu, como os filhos do mar.


ME DIJO UNA TARDE

Me disse uma tarde
da Primavera:
Se buscas caminhos
em flor pela terra,
mata tuas palavras,
ouve tua alma velha.
Que o mesmo alvo linho
que te vista seja
teu traje de luto,
teu traje de festa.
Ama tua alegria,
ama tua tristeza,
se buscas caminhos
em flor pela terra.
Respondi à tarde
da Primavera:
Disseste o segredo
que em minha alma reza:
odeio a alegria
por ódio às penas.
Mas antes que pise
tua florida senda,
quisera trazer-te
morta minha alma velha.


La Saeta (O canto)

Disse uma voz popular:
Quem me empresta uma escada
para subir ao madeiro
para tirar-lhe os cravos
a Jesus o Nazareno?

Oh, la saeta, o cantar
ao Cristo dos ciganos
sempre com sangue nas mãos
sempre por desencravar
Cantar do povo andaluz
que todas as primaveras
anda pedindo escadas
para subir à cruz

Cantar da terra minha
que joga flores
ao Jesus da agonia
e é a fé de meus velhos
Oh! Não és tu meu cantar
não posso cantar, nem quero
a este Jesus do madeiro
senão ao que andou no mar!


Resumo da Biografia de Antonio Machado

Antonio Machado (1875-1939), renomado poeta espanhol ligado à “Geração de 98” devido às suas críticas à realidade nacional, teve uma vida marcada por mudanças e desenvolvimento literário significativo.

Nascido como Antonio Cipriano José Maria Machado Ruiz em Sevilha, Espanha, em 26 de julho de 1875, mudou-se para Madri com sua família quando tinha oito anos. Sua educação incluiu passagens pela Institución Libre de Ensenanza e, mais tarde, pelos institutos San Isidoro e Cardenal Cisneros.

Sua carreira literária começou em 1895 com artigos satíricos e humorísticos publicados no periódico La Caricatura. Em 1899, mudou-se para Paris, onde trabalhou como tradutor para a Editora Garnier e conheceu figuras como Oscar Wilde e Pio Baroja.

De volta a Madri, ele se envolveu com a companhia teatral de Maria Guerrero e Fernando Dias de Mandoza. Em 1902, retornou a Paris, onde entrou em contato com o modernismo, influenciado pelo poeta Rubén Dario, embora tenha posteriormente abandonado esse movimento em favor do que ele chamou de “poesia eterna”.

A obra literária de Antonio Machado pode ser dividida em três fases distintas. A primeira fase, representada por “Soledades” (1903) e “Soledades, Galerias e Outros Poemas” (1907), é profundamente lírica e subjetiva, explorando temas como morte, tempo e melancolia, influenciada pelo romantismo tardio do século XIX.

A mudança para Soria, na região de Castela, marcou sua segunda fase, que incluiu “Campos de Castilla” (1912), caracterizada por uma poesia menos íntima, focada em descrições e influenciada pelo romanceiro popular.

Depois da morte de sua esposa, Antonio Machado passou por Baeza e Segóvia antes de se estabelecer em Madri em 1931. Nessa época, publicou “Nuevas Canciones” (1924) e “Poesias Completas” (1928), marcando sua terceira fase com um tom mais sombrio e questões intelectuais.

Em 1932, retornou a Madri, mas a eclosão da guerra civil espanhola em 1936 o levou a declarar apoio aos republicanos. Ele se mudou para Valência e depois Barcelona, até se exilar na França em janeiro de 1939.

Antonio Machado faleceu em Collioure, França, em 22 de fevereiro de 1939. Sua vida e obra deixaram um legado duradouro na literatura espanhola.