Biografia de Antero de Quental
Antero de Quental (1842-1891) foi um destacado poeta e filósofo português, amplamente reconhecido como um líder intelectual do movimento realista em Portugal. Ele dedicou sua vida à exploração dos grandes questionamentos filosóficos e sociais de sua época, desempenhando um papel significativo na disseminação das ideias progressistas da geração de 1870.
Nascido em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, Portugal, em 18 de abril de 1842, Antero Tarquínio de Quental era filho de Fernando de Quental e Ana Guilhermina da Maia. Seus primeiros anos de estudo foram realizados em Ponta Delgada.
Aos 16 anos, em 1858, Antero de Quental ingressou na Universidade de Coimbra, onde cursou Direito e logo se destacou como um líder entre os estudantes, devido à sua personalidade marcante.
Sua educação foi influenciada pela religiosidade de sua mãe e pelos exemplos de seu pai e avô, que sempre foram opositores do absolutismo, além de sua sensibilidade notável, que o levou a se preocupar profundamente com as questões sociais.
Em Coimbra, Antero de Quental fundou a Sociedade do Raio, um grupo que tinha como objetivo renovar a nação por meio da literatura. Em 1861, ele publicou uma série de versos que abriram caminho para sua futura fama literária.
O Realismo em Portugal – A Questão Coimbrã
Enquanto ainda era estudante em Coimbra, Antero de Quental liderou um grupo de colegas que rejeitava as antigas ideias do Romantismo, o que gerou um debate acalorado entre a velha geração de poetas e a nova.
Em 1864, Teófilo Braga publicou dois volumes de poesia, intitulados “Visão dos Tempos” e “Tempestades Sonoras”. No ano seguinte, Antero lançou “Odes Modernas”.
Em “Odes Modernas”, Antero rompeu completamente com a tradição poética portuguesa, afastando-se do romantismo, sentimentalismo e religiosidade lírica, e enfatizando os princípios de liberdade e justiça. No entanto, sua poesia recebeu críticas do poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho, que o acusou de exibicionismo, obscuridade e de tratar de temas considerados inapropriados para a poesia.
Antero de Quental respondeu às críticas em uma carta aberta a Castilho, intitulada “Bom Senso e Bom Gosto”, na qual acusou Castilho de manter uma mentalidade obscurantista.
Antero defendeu fervorosamente a liberdade de pensamento e a independência dos novos escritores, enquanto atacava o academismo e a literatura romântica em declínio, promovendo a renovação literária. Essa polêmica ficou conhecida como “Questão Coimbrã” e marcou a transição do Romantismo para o Realismo em Portugal.
Novos Desafios
Após uma intensa polêmica com os conservadores e aqueles que compartilhavam de suas opiniões em relação às correntes filosóficas dominantes da época, como o determinismo e o positivismo, Antero de Quental tomou uma decisão surpreendente: partiu para Paris com o objetivo de aprender o ofício de tipógrafo. Ele trabalhou como tipógrafo na cidade por dois anos, mas sua saúde fragilizada o levou de volta a Lisboa em 1868, quando começou uma fase de intensa atividade política e social.
Juntamente com outros escritores notáveis, como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, Antero de Quental fundou o “Grupo Cenáculo”. Ele também foi um dos fundadores do “Partido Socialista Português” e se uniu à “I Internacional”. Em 1869, ele lançou o jornal “A República” em colaboração com Oliveira Martins.
As Conferências Democráticas
Em 1871, Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão organizaram uma série de “Conferências Democráticas” no Cassino Lisbonense, com o objetivo de promover reformas na sociedade portuguesa.
Essas conferências abordaram uma ampla gama de questões sociais e políticas. A primeira conferência, realizada por Antero de Quental, tratou das “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”. No entanto, quando estava programada para ocorrer a quinta conferência, o ministro do reino proibiu sua realização, alegando que os conferencistas tinham intenções subversivas.
Apesar da forte oposição das autoridades, o grupo alcançou seu objetivo de promover discussões e consolidou a influência do Realismo Português no cenário artístico e intelectual.
Em 1872, Antero começou a editar a revista “O Pensamento Social” em colaboração com José Fontana.
A Geração de 70, como também era conhecida essa geração de escritores, se dispersou após a repressão às conferências do Cassino.
Poemas de Antero de Quental
A trajetória poética de Antero de Quental pode ser dividida em três fases, que refletem as mudanças em sua visão de mundo:
Influenciado pelo idealismo hegeliano e pelo socialismo de Proudhon, Antero publicou “Odes Modernas” em 1865, uma obra impregnada de realismo radical que refletia as transformações revolucionárias de sua época. No entanto, sua excessiva sentimentalidade o impediu de adotar uma abordagem poética totalmente reformista. Sua atitude oscilava entre a tradição religiosa e o engajamento social.
Em seu soneto “Mais Luz”, Antero de Quental refletiu o conteúdo revolucionário e social de suas ideias, representando uma fase importante em sua evolução poética.
Mais Luz!
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis
A borda dos abismos silenciosos…Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-se, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!
No ano de 1871, Antero de Quental lançou “Primaveras Românticas”, uma coletânea de versos que reflete fortemente os ideais e princípios do movimento Romântico.
Nirvana
Viver assim sem ciúmes, sem saudade,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
deixando pelo chão, rosas e espinhos.Poder viver em todas as idades,
poder andar por todos os caminhos,
indiferente ao bem a às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos…
Sofrendo de tuberculose, Antero de Quental passou por um período de decepções entre 1873 e 1874. Em seu soneto intitulado “O Que a Morte Diz”, ele compartilhou os tormentos que estava enfrentando.
O Que a Morte Diz
Deixai-os vir a mim, os que lideram,
deixai-os vir a mim, os que padecem,
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem…Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem…Assim a morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das coisas invisíveis, muda e fria…
Entre 1879 e 1886, Antero se transferiu para a cidade do Porto, onde publicou sua melhor obra poética “Sonetos Completos”, de nítido sentido autobiográfico.
Antero de Quental, sofrendo com uma depressão, compra um revólver e se suicida no dia 11 de setembro de 1891, em Ponta Delgada, Portugal.
Obras Poéticas de Antero de Quental
- Sonetos de Antero (1861)
- Odes Modernas (1865)
- Primaveras Românticas (1872)
- Sonetos Completos (1886)
- Raios de Extinta Luz (1892)